sábado, maio 28, 2005

A Teresa é daquele tipo amigona. Além disso, a moça é muito talentosa. Quase cai da cadeira quando li isto:
Exovisão de um encontro

Um dia ela não era conhecida.
Mas nem por isso deixou de existir: vivia intensamente, às vezes enlevava-se e às vezes escondia-se na maré de seus sonhos, aspirando a dias melhores e fazendo uma força cautelosa, inicialmente, para concretizar seus desejos utópicos.

Passou a não ser ignorada.
O olhar sobre ela lançado foi interpretado como um descuido. Percebeu porém, mais tarde, que era um ver furtivo e ao mesmo insistente. E sucumbiu à agonia lancinante de se ver enredada por sensações que não podia controlar.

E quis não ser mais só.
Investiu e foi investida, algo meio assim, confuso e intenso e radiante e preocupante e ininteligível e bom e incômodo também. Muito mais do que sensações, um maremoto de idéias, de hipóteses, de olhos abertos no escuro tentando desfazer o silêncio imóvel da madrugada que descendia pesado sobre os corpos.

E tentou não ser distante.
Quando amanhecia e os rumos voltavam a ser paralelos, o reencontro dos caminhos somente era possível quando houvesse o descarrilamento de uma das partes, especialmente dela. E de tudo (ou quase tudo) fazia para que a confluência fosse serena e caudalosa, paciente e perfeita. No entanto, cada palavra dele convertia-se em desculpas úmidas, alegações de urgente distanciamento por motivos familiares, pessoais e desconhecidos. E infundados talvez. Ela assentiu, querendo respeitá-lo e ajudá-lo a se encontrar em seu próprio mundo.

E começou a não ser mais alegre.
Sentia-se uma invasão na rotina daquela atmosfera camuflada por trás de óculos, livros e fones. Estava incômoda, sem obter respostas às suas perguntas, sem entender o porquê da junção de seus caminhos, posta a brevidade desse encontro.

E decidiu não ser mais próxima.
Ajuntou os fragmentos de sua alma repartida e alçou um vôo fragilizado, para longe daquela turbulência interior na qual ele estava submerso. Inconformada com a necessidade de tal atitude, lamentou e reprimiu suas lágrimas nos braços da noite.

E se esforçou para não ser abatida.
Escondeu as mãos nervosas nos bolsos, mudou a estrada para evitar o possível confronto e esporadicamente lia os sentimentos dele publicados, tentando decifrá-los.

E um novo dia passou a não ser mais vista.
Conseguiu finalmente conquistar seu desejo infantil de ser invisível. Por ele passava e não era percebida. Em vão esboçava um sorriso quadrado e uma pose de aparente rigidez. Sentiu-se como um espectro, mas encarou isso como uma forma de ser superior, alheia à todas as convulsões que o olhar sob o óculos lhe causava. Pensou nessa situação como uma forma de voltar às suas utopias, esquecer a nebulosidade dos dias passados e prosperar, até que enfim.

Hoje ela é. E isso basta.
Uma asa só, que plana e vê tudo de uma outra forma, mais sóbria e menos conturbada, e que ruma ao horizonte. Ao seu horizonte.
(Teresa Azambuya)

(isso que eu chamo de tradução perfeita!)